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Tempo de tela eleva os níveis de ansiedade em adolescentes

Em 2020, o Grupo de Trabalho sobre Saúde na Era Digital, da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), a partir da inclusão do abuso em jogos eletrônicos como transtorno propenso a vício na lista de Problemas Relacionados à Saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS), criou o manual #Menos Telas #Mais Saúde.

De acordo com a SBP, o uso desequilibrado da internet pode afetar a saúde de adolescentes em até 15 problemas médicos, como transtornos do sono e má alimentação, bem como o desenvolvimento de quadros de ansiedade e depressão. 

A Mestre em Psicologia Educacional, psicanalista e cofundadora da Empoderamento Adolescente, organização de suporte a adolescentes, Gabriela Mazzei, afirma que o uso excessivo de telas pode levar ao isolamento social, especialmente quando substitui o tempo de atividades ao ar livre e sociais face a face. “Essa falta de interação social pode contribuir para o desenvolvimento de problemas emocionais e no relacionamento interpessoal”, explica.

Efeitos do uso de telas na saúde mental de adolescentes 

Um artigo de revisão publicado pela Escola de Epidemiologia e Saúde Pública do Instituto de Ciências Médicas Datta Meghe, da Índia, na revista norte-americana Cureus, em 8 de outubro de 2022, pontua que as pessoas se sentem pressionadas e culpadas quando não conseguem responder às notificações imediatamente, e por isso enfrentam altos níveis de ansiedade quando tem o acesso à internet interrompido.  

Segundo o estudo, os jovens podem ter como consequência a ansiedade noturna proveniente de uma relação entre sono inadequado e envolvimento emocional na internet, causada, principalmente, pelo uso de mídias sociais, e o medo de perder novas informações. 

Diante disto, Gabriela Mazzei destaca atitudes que os pais devem ter com filhos adolescentes: “Incentivar os jovens a descobrir e desenvolver interesses que não envolvam dispositivos eletrônicos e manter uma comunicação aberta sobre o uso de telas e seus efeitos é um bom começo.”

O artigo aponta, ainda, que o uso exagerado de telas pode aumentar os hormônios do estresse e desestabilizar o ciclo circadiano, conhecido como relógio biológico, além de causar alterações químicas no cérebro e gerar dificuldades no processo de desenvolvimento mental.

De acordo com o estudo, a luminosidade exerce grande influência sobre o ciclo circadiano por sinalizar ao cérebro a necessidade da produção de melatonina, hormônio regulador do sono. Logo, a luz azul, produzida pelas telas, é um fator de desequilíbrio do organismo.  

Vício em telas por crianças e adolescentes

O texto de revisão afirma que crianças de 11 a 14 anos passam nove horas por dia usando telas, e adolescentes de 15 a 25 anos passam sete horas e meia, e reforça que o uso excessivo durante a adolescência e o início da vida adulta pode fazer com que sentimentos de insatisfação em relação à própria vida sejam acompanhados de problemas de saúde na idade adulta, aumentando a probabilidade de tristeza, depressão e ansiedade.

“É importante notar que a relação entre o uso de telas e a saúde mental é complexa, e outros fatores, como conteúdo consumido e contexto social e familiar, também podem desempenhar um papel importante”, pontua Gabriela Mazzei.

A resiliência, que tem como componentes importantes a atenção aos problemas e o grau de prazer da vida, é uma construção psicofisiológica dinâmica que também pode ser prejudicada pelo uso excessivo de tela segundo a pesquisa que buscou estudar, entre outros aspectos, as causas de ansiedade proveniente do aumento do uso de telas entre adolescentes. A psicanalista Gabriela Mazzei lembra que para trazer um equilíbrio entre as atividades on-line e off-line, os pais podem usar aplicativos de controle de tempo que ajudam a monitorar e limitar o tempo de tela dos filhos. 

O estudo conclui que o tempo excessivo de tela pode prejudicar os adolescentes com danos irreversíveis e afirma que outras pesquisas mostram que o tempo de tela altera a sensibilidade do sistema de recompensa do cérebro por liberar muita dopamina, um neurotransmissor que gera sensação de bem-estar. 

A navegação na internet, de diversas maneiras, proporciona ao cérebro dos jovens as maneiras de recompensa que buscam, mas quando usadas em excesso, se tornam menos responsivas. Desta maneira, é necessário que o usuário faça um uso deste dispositivo cada vez maior, para que possa ter o estímulo para experimentar o prazer novamente, formando assim um comportamento vicioso. 

“O exemplo dos adultos tem um papel importante como modelo para seus filhos. Os pais devem se certificar em seguir as regras e limites também”, ressalta Gabriela Mazzei. A profissional de saúde mental afirma que é útil para os adolescentes notarem a capacidade dos pais de se desconectarem e se engajarem em atividades off-line. Por isso, é interessante promover e incentivar a participação em atividades ao ar livre e sociais face a face, como esportes, e outros hobbies como leitura e arte. 

De acordo com o levantamento feito pela revisão, outros estudos concluíram que qualquer forma de dependência da internet causa mudanças estruturais no lobo frontal, região responsável pela capacidade de lidar com tarefas complexas, filtrar informações irrelevantes e se ajustar às mudanças.

Contexto cultural brasileiro

A pesquisa Tic Kids Online Brasil de 2021, divulgada em agosto de 2022, mostra que 93% dos usuários de internet no país, têm entre 9 e 17 anos, e, destes, cerca de 80% acessam as redes mais de uma vez por dia.

Mazzei destaca a informação sobre o tema para que os responsáveis consigam orientar os filhos sobre os efeitos negativos na saúde dos adolescentes. “É preciso se basear em argumentos sólidos, pois essa geração exige mais do que ‘achismos’. Eles precisam entender as consequências a longo prazo e as razões de encontrar um equilíbrio saudável”, frisa.  

Para saber mais, basta acessar www.empoderamentoadolescente.com.br

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