O câncer de próstata é a neoplasia sólida mais comum nos homens, costuma ocorrer em homens acima dos 40 anos, com pico de incidência aos 66 anos. Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), este câncer é o segundo mais comum entre os homens no país, atrás apenas do câncer de pele não melanoma. De acordo com a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), a cada 40 minutos um homem morre de câncer de próstata. Dados mostram que 20% dos pacientes com a doença são diagnosticados em estágios avançados. E mais, que o câncer de próstata é o principal medo em relação às doenças urológicas em homens.
O Novembro Azul é uma campanha de conscientização a respeito de doenças masculinas, com ênfase na prevenção e no diagnóstico precoce do câncer de próstata. Em meio ao tabu e preconceito, outra polêmica vem ganhando espaço no cenário: a efetividade ou não do rastreamento populacional para a doença, ação na qual homens sem sintomas são orientados a realizar os exames de PSA (de sangue) e de toque retal com o objetivo de detectar eventuais tumores em fase inicial.
O Ministério da Saúde passou a não recomendar o rastreamento populacional sob o argumento de que estudos científicos verificaram que programas de rastreamento não têm grande impacto na redução de mortalidade pela doença e podem causar danos à saúde do homem. Isso porque o paciente diagnosticado tem um risco aumentado de passar por um tratamento que seria desnecessário e que pode deixar sequelas como incontinência urinária e disfunção erétil.
Já as principais sociedades de Urologia e Oncologia do mundo, incluindo a Sociedade Brasileira de Urologia, recomendam o rastreio anual do câncer de próstata em homens a partir dos 45 anos de idade com fatores de risco (afrodescentes e história familiar positiva em parentes de 1º Grau) e a partir dos 50 anos em todos os homens. O médico urologista Vicente Codagnone Neto explica que o câncer de próstata, na imensa maioria dos casos, não causa sintomas, pois localiza-se na zona periférica da próstata e sintomas como sangramento, obstrução urinária e dor óssea são vistos em doenças avançadas e metastáticas. “Em doenças avançadas a cura já não é possível. Ressalta-se que, ao diagnosticar o câncer de próstata precocemente, as chances de cura são maiores que 90%. Dados mostram que 20% dos pacientes com a doença são diagnosticados em estágios avançados”, explica. E mais: “com o avanço da tecnologia em exames de imagem e laboratoriais, hoje temos disponíveis alguns artifícios para que se evite uma biópsia desnecessária. Exames como a Ressonância Magnética e marcadores tumorais como o PHI e 4K score são alguns deles. A tecnologia no tratamento do câncer de próstata também evoluiu, sendo a Cirurgia Robótica o tratamento que leva a melhores resultados funcionais no sentido de preservar a ereção e a continência urinária mais precocemente. A Cirurgia Robótica também leva a uma recuperação operatória mais rápida e com menor sangramento operatório, quando comparada às cirurgias abertas”, pontua.
O médico ressalta que o diagnóstico precoce pode ajudar não só no tratamento oncológico da doença como também na preservação da continência e da potência sexual. “Em 2012, nos EUA, os exames de rastreio deixaram de ser recomendados e o resultado foi desastroso. Observou-se um aumento no diagnóstico de câncer em estágio mais avançado e com metástases. Atualmente, voltou-se a aconselhar o rastreio do câncer de próstata com o PSA e o exame do toque retal, individualizando cada paciente de acordo com suas características e riscos.
O empresário Raul Schmitt conta que desde cedo faz acompanhamento, seu pai faleceu de câncer de próstata. “O tabu, a falta de informação e o próprio medo o afastavam de procurar ajuda. Quando os sinais apareceram, já era tarde”, conta. E a precaução tem ajudado na sua qualidade de vida. “Fui diagnosticado com hiperplasia prostática benigna, uma condição que faz a próstata crescer. Por conta disso, faço acompanhamento duas vezes por ano, preocupado com o aparecimento de um câncer de próstata e com foco na saúde integral”, explica.
Dados alarmantes
No estado de Santa Catarina foram registradas 534 mortes por câncer de próstata em 2022, o segundo pior patamar anual na série de registros da Diretoria de Vigilância Epidemiológica catarinense (Dive-SC) sobre a doença, que teve início em 1996. Só ficou atrás de 2019, quando 542 pessoas morreram. Para 2023, a previsão da Secretaria de Estado de Saúde é de haver 1,7 mil casos em Santa Catarina.
A estimativa do Inca é de 72 mil novos casos dessa forma de tumor maligno no país a cada ano até 2025. Quando as manifestações clínicas começam a aparecer, cerca de 95% dos tumores desse tipo já estão em fase avançada, segundo informações do Ministério da Saúde. Nesta fase, os sintomas são:
– Dor óssea;
– Dores ao urinar;
– Vontade de urinar com frequência;
– Presença de sangue na urina e/ou no sêmen.
Vale destacar que ardência/dificuldade para urinar não é um sintoma da doença, embora possa indicar alguma outra patologia.
Tabu
Apesar das orientações, o tabu envolvendo a saúde masculina, especialmente em relação ao exame de toque retal, continuam sendo um obstáculo. “Um dos grandes entraves para que os homens realizem seus exames de rotina é o preconceito, o tabu, que sempre está acompanhado de medo, vergonha e falta de informação. Por isso é muito importante conversarmos abertamente sobre o tema, para salvarmos vidas. O exame de toque é rápido, indolor e não fere a masculinidade do homem e, associado ao PSA, feito por exame de sangue, aumentam a chance dessa doença ser diagnosticada de forma mais precoce”, pondera o médico urologista Vicente Codagnone Neto.