Cotidiano

‘Pupa’: Projeto da Defensoria do Amazonas realiza a primeira apresentação teatral de jovens socioeducandos 

Peça ‘Esperança’ foi encenada por internos do Centro Socioeducativo Assistente Dagmar Feitoza, marcando a finalização da 1º temporada da iniciativa, que utiliza a arte cênica como instrumento de resgate  

Auxiliando na ressocialização de jovens que cumprem medidas socioeducativas determinadas pelo Poder Judiciário, a Defensoria Pública do Estado do Amazonas (DPE-AM) realizou, nesta quarta-feira (27), a apresentação teatral que finaliza a 1º temporada do projeto “Pupa”, iniciativa que utiliza a arte cênica como instrumento de resgate. A peça intitulada “Esperança” foi encenada por internos do Centro Socioeducativo Assistente Dagmar Feitoza, no Teatro Gebes Medeiros, Centro de Manaus.   

 A apresentação especial e inédita foi assistida por servidores e membros da DPE-AM, além dos familiares de adolescentes, que agora veem na arte a oportunidade de uma nova jornada.  Durante o encerramento, o Defensor Público Geral, Rafael Barbosa, destacou a longa caminhada da Defensoria em parceria com a equipe do Dagmar Feitoza, resultando em uma transformação positiva no Centro Socioeducativo.  

 “Lembro que por volta de 2016, estávamos no nascimento do ‘Ensina-me a Sonhar’, que era uma tentativa de levar esse lado mais humano para o Dagmar Feitoza. Acredito que a Defensoria tem um papel importante na transformação do centro. Sentimos que dava para evoluir com os projetos e veio o ‘Ensina-me Empreender’ e agora a Defensoria tem orgulho de apresentar tudo isso que foi feito hoje aqui pelos meninos, comprovando o talento deles e a vontade de seguir o caminho correto e perseverar na vida”. 

 “Nem todo mundo tem as oportunidades necessárias, mas hoje é um sinal de que pode ser diferente e, para DPE, já é uma vitória muito grande. Ficamos muito felizes, pois conseguimos materializar sonhos não só da Defensoria, mas daqueles que atuam no Dagmar Feitoza e, principalmente, dos meninos”, ressaltou o DPG. 

 Vida real e teatro 

Cumprindo a ideia base do projeto, a peça Esperança retratou recortes das histórias dos internos envolvendo todas as etapas de um espetáculo, com os atores, músicos, coral, figurinistas e criação de cenário.  

 Em tom de emoção, a artista amazonense Bitta Tikuna Catão, que assina a preparação de elenco e direção do espetáculo, falou sobre a oportunidade de poder colocar em prática a arte como instrumento de resgate e direcionamento de vida aos socieducandos.  

 “Foi maravilhoso chegar até o final desse processo com uma equipe tão boa e com os talentos que descobrimos no Dagmar Feitoza. Todos se empenharam como profissional. Os meninos se empenharam de uma forma que eu não esperava, cada um sabendo o seu momento, cada um tendo a sua emoção e eles me surpreenderam muito. Estou muito feliz e agradecida. Tivemos um ótimo resultado”.  

 Emoção e esperança 

Em meio à lagrimas de alegria e um olhar que transmitia a esperança por dias melhores, dona Daiane Maciel, mãe de um dos internos que participou da peça, compartilha o sentimento de ver o filho pisando no palco pela primeira vez.   

 “Eu estou muito feliz, de verdade, estar aqui e ver que eles abraçaram essa oportunidade junto com todos do projeto. É muito bom ver meu filho atuando, tão diferente do que eu via antes quando ele entrou lá. Hoje posso dizer que eu estou muito feliz e grata que o meu filho evoluiu bastante, ainda mais com teatro. Logo ele vai estar aqui fora com a gente”, celebrou a mãe.   

 Defendendo direitos e promovendo cultura 

Coordenando o projeto, as defensoras públicas Monique Cruz e Dâmea Mourão e defensor Eduardo Itaussú contaram que a jornada de ensaios e produção do Pupa foi também um momento de novas experiências. Com a apresentação da peça como ponto alto, os defensores também subiram ao palco dando força e apoio aos socieducandos.   

“Hoje é um dia de glória, para comemorarmos o que realmente foi um espetáculo. Quando tivemos a ideia Inicial, não tínhamos noção de que seria tão grande e hoje podemos ver o crescimento desses meninos, como se desenvolveram ao longo do processo. Foi um aprendizado tanto para ele quanto para a gente”, comentou a defensora Monique Cruz.   

“Nos esforçamos. Quando vem a demanda, o defensor tem que agir, tem que atuar e a demanda artística também me chamou e nós fizemos a nossa parte dentro das nossas das nossas limitações, é claro, mas com essa vontade de contribuir, de estar presente. Creio que a nossa presença também ajudou a transmitir uma certa segurança para eles, pois é algo novo para todo mundo”, compartilhou Dâmea.   

Para Eduardo Itaussú, que contracenou com um dos internos, a arte imitou a vida e deixou esse momento marcado na memória. “Foi desafiador, mas missão foi cumprida. Quando me comunicaram que eu ia participar da peça, eu estava exatamente atendendo o próprio adolescente com quem contracenei, então é realmente a arte imitando a vida. É o papel que a gente tem no dia a dia. Foi muito bom”. 

 Participações e apoio 

A apresentação contou com apoio das secretarias de Estado de Cultura e Economia Criativa (SEC) e de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania (Sejusc), além da participação dos artistas Rafa Militão e o MC DaCota, que estiveram, inclusive, nas oficinas realizadas durante o programa “Ensina-me a Sonhar”.  

“Falamos muito sobre sonhar. Mas não falamos sobre devolver o sonho. Pensando como periferia de uma forma geral, sabemos como é importante devolver o sonho e esse projeto devolveu o sonho para muitos deles. Estou extremamente feliz com a entrega deles”, ressaltou Rafa Militão. 

Responsável pela Empresa Bronzo’s Filme,s que contribui a parte técnico-cenográfica, o  “gaffer” Sérgio Bronzo também falou da participação especial de sua equipe no espetáculo. “A oportunidade que eu tive hoje é quase indescritível. Contem comigo sempre. Projetos como este são especiais. Futuramente, ficarei feliz em fazer uma oficina com outros socioeducandos e compartilhar com eles muito mais sobre esse mundo do audiovisual. Parabéns a todos os envolvidos nesta iniciativa”.  

Jornada 

Ao todo, 13 socioeducandos participaram do projeto Pupa, que vem de uma sequência de ações efetivas promovidas pela Defensoria Pública do Amazonas com socioeducandos, como o “Ensina-me a Sonhar” e “Ensina-me a Empreender”, que auxiliam, principalmente, no trabalho de resgate da autoconfiança de cada um dos participantes.   

Os ensaios da apresentação teatral Pupa foram realizados às sextas-feiras, de 9h às 11h. Em todo o período de atividades, o projeto recebeu participações especiais de profissionais ligados à arte e ao audiovisual.   

Reconhecimento de palco, confecção de cenário, aulas de canto, dança, pausa para leitura, integraram a agenda de encontros dos jovens atores que aspiram por uma oportunidade de melhorar a vida e viver uma nova história.    

Durante a jornada, os internos tiveram a oportunidade de viver novas experiências, como a visitação ao Teatro Amazonas e dinâmicas que proporcionaram contato mais direto com o universo da atuação.   

Para o diretor do Centro Socioeducativo Dagmar Feitoza, Antônio Juracy, o momento simbolizou a renovação de caminhos que serão trilhados pelos jovens. “Cada dia é uma nova oportunidade para sonharmos. Que eles possam explorar suas emoções e aspirações, criando laços que fortaleçam sua resiliência. E que percebam que cada pequeno passo na direção certa poderá levar a grandes conquistas. Sempre vou reforçar que ações como esta da Defensoria, oportuniza a dignidade humana”.   

 Continuidade 

A intenção, conforme o Defensor Público Geral, Rafael Barbosa, é que a o projeto, já considerado um sucesso, seja realizado novamente em 2025, promovendo transformações nas vidas de outros socieducandos.   

“Vamos levara adiante esse projeto, que será cada vez mais profissional, desempenhando e incentivando a criatividade e o talento daqueles que buscam por uma oportunidade”, finaliza o DPG. 

Imagem: Allan Leão/DPE-AM

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