As práticas tradicionais, desafios e as vivências relacionadas ao cuidado em saúde dos ribeirinhos e dos profissionais que atuam no interior do Amazonas são tema da coletânea “A arte do cuidado em saúde no território líquido: conhecimentos compartilhados no Baixo Rio Amazonas, AM”. A primeira edição do livro, produzido com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado Amazonas (Fapeam), foi lançada pelo Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia).
A obra analisa o ponto de vista dos usuários do sistema público de saúde e ainda do serviço ofertado. Organizado por pesquisadores, o livro está dividido em 15 capítulos e foi escrito por mais de 30 de pessoas, dentre usuários, gestores e profissionais da saúde dos municípios de Barreirinha, Boa Vista do Ramos, Maués e Parintins. Os autores participaram ainda de oficinas de escrita para ajudar na composição da publicação.
Segundo o coordenador do projeto, o pesquisador do ILMD/Fiocruz Amazônia, Júlio Schweikardt, apesar da dificuldade de acesso das equipes de saúde no interior, em comunidades mais distantes, foram encontrados pontos interessantes durante a pesquisa, como o esforço dos profissionais no suporte e apoio nas Unidades Básicas de Saúde Fluviais.
“Para nós, envolver os trabalhadores neste projeto foi importante, porque eles também fizeram uma autoanálise dos seus serviços. Quando você escreve, ao mesmo tempo você está fazendo esse processo automaticamente”, acrescentou.
O livro se encontra disponível para download gratuito no site da editora Rede Unida (https://editora.redeunida.org.br). A obra está integrada ao projeto de pesquisa “Acesso da população ribeirinha à rede de urgência e emergência da saúde no Amazonas”, desenvolvido no âmbito do Programa Pesquisa para o SUS: Gestão Compartilhada em Saúde (PPSUS) da Fapeam.
“Quando fizemos a proposta de pesquisa, pensamos para que ela tivesse uma abordagem participativa, diferente de outras modalidades de projetos, nos quais são realizadas as coletas, organizadas as informações e publicadas em forma de relatório ou artigos. Este projeto não, desde o início, oficinas foram realizadas com os trabalhadores, analisando a rede e verificando como eles veem a questão do acesso da população ribeirinha”, acrescentou Júlio.
Sobre a temática do livro, o pesquisador do ILMD/Fiocruz Amazônia explica que o termo ‘território líquido’ é uma categoria criada no laboratório para se referir ao território “Amazônia ribeirinha”.
“É uma Amazônia muito mediada pelas águas, componentes fundamentais principalmente na vida da população ribeirinha. Para pensarmos em políticas públicas, precisamos partir dessa dinâmica que é muito influenciada pelo ciclo das águas, como a seca, cheia, enchente e vazante, que interferem diretamente nos serviços de saúde e nos tipos de doenças também. Tudo isso a pesquisa encontrou, os meios de transportes usados pela população, quais são os tipos de serviços que os municípios oferecem de apoio aos usuários da área ribeirinha”, disse.
Homenagem – A capa do livro traz como referência a obra “Os Andarilhos”, produzida pelo artista Saturnino Neto, integrante do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS II) Adolfo Lourido, no município de Parintins. A obra faz ainda uma homenagem à parteira Nazaré, que contribuiu para a saúde das gestantes no município e foi vítima da Covid-19 neste ano.
Apoio da Fapeam – Sobre o apoio da Fapeam para produção do livro, Júlio Schweikardt destaca que a Fundação veio dinamizar a pesquisa no estado. “A Fapeam é fundamental para fazermos esse tipo de exercício de pesquisa, de caráter participativo de mobilizar alunos, usuários e os trabalhadores”, disse.
FOTOS: Érico Xavier/Fapeam