Em 1902, há 121 anos, se iniciavam oficialmente as obras de melhoramento do porto de Manaus. A empreitada incluía a construção da Casa de Máquinas, o primeiro prédio da história da administração portuária, que abrigaria a usina de eletricidade, para alimentar a reforma e garantir o funcionamento dos equipamentos e instalações.
Neste mês de julho, a atenção da Prefeitura de Manaus está voltada à Casa de Máquinas, o museu do porto da capital, um imóvel tombado pelo Instituto Nacional de Patrimônio Histórico e Artístico (Iphan) do Amazonas. A edificação recebe estudos do Instituto Municipal de Planejamento Urbano (Implurb) e projetos para requalificação e revitalização para voltar a ser ponto de visitação, com nova ambiência e recuperando a edificação histórica de tijolinhos e o casarão.
O espaço está fechado há mais de 20 anos. A reabilitação prevê ações na casa vermelha, anexa ao complexo portuário, na rua Governador Vitório, esquina com a travessa Vivaldo Lima, no Centro, zona Sul.
Equipes da Diretoria de Planejamento (DPLA) e da Gerência de Patrimônio Histórico (GPH) fizeram uma nova visita técnica ao imóvel para realizar uma nova etapa de pré-levantamento cadastral, de acervo iconográfico e fotográfico. O objetivo é detalhar e realizar leituras do que foi original e o que foi alterado ao longo dos anos desde 1905.
“Na década de 1980 houve uma intervenção para que o espaço se transformasse em museu do porto, mantendo a Casa de Máquinas. O porto é muito emblemático para a cidade, que não tinha um até 1900. Ele passa a representar o acesso, a entrada da tecnologia, insumos e o ir e vir do período. Então, a visita tem esse caráter de levantamento de dados e documental do que se deve ter como preservação da memória e de patrimônio e do que pode ser conservado e do que é possível adequar ao uso museológico com uma visão necessária contemporânea”, explicou a gerente do GPH, arquiteta e urbanista Melissa Toledo.
O trabalho em campo servirá para desenhar o estado atual da edificação, tendo como auxílio o uso da fotografia como referência para organização das informações.
“E para observar qual escala do imóvel, textura, realidade do material dos objetos, é só ver a arquitetura e estar no ambiente, de forma atenta, desde paredes, estrutura da cobertura, telhas, os materiais de uma engenharia mecânica da época. Tudo isso nos traz essa percepção e reflexão ampliada com as buscas documentais. O levantamento é extremamente importante para decodificar a representação gráfica do estado atual, de um museu que está há mais de 15 anos fechado, mas cuja memória afetiva da maioria das pessoas é de ser um museu desde os anos 80. As novas gerações só conheceram o lugar como espaço museológico”, comentou Melissa.
A Casa de Máquinas esteve em funcionamento pleno no porto até meados da década de 1950, mas o museu do porto só foi inaugurado em 1998. “Todo esse trabalho e documentação estabelecem conexões para uma leitura real do bem tombado, criando pontos fundamentais de preservação e daquilo que se possa adequar, do que não seja elemento possível da originalidade”, explicou a gerente.
Revitalização
O projeto para revitalização e reabilitação do antigo museu do porto está inserido no programa “Nosso Centro”, lançado pelo prefeito David Almeida. Ele busca resgatar a história e torná-la novamente pública. No local, Manaus exportava produtos extraídos da terra, como a famosa borracha, importava de jóias aos mais finos tecidos, além de materiais que ajudaram a construir a cena da Belle Époque, como o ferro para o Teatro Amazonas.
A grande missão nesta intervenção urbanística e patrimonial será de resgatar a memória para contá-la ao público, mostrando a importância das águas, do local de embarque e desembarque em uma imensa viagem ao tempo juntando passado, presente e futuro.
O diretor de Planejamento Urbano do Implurb, arquiteto e urbanista Pedro Paulo Cordeiro, disse que será uma intervenção com mais limpeza e restauro do que é necessário para ir à exposição e resgate arquitetônico. “Ir a campo é importante, porque hoje os museus atuais vão além da exposição e do resgate histórico. A proposta é que o prédio de tijolinhos tenha o resgate do patrimônio, da história, das máquinas existentes e do acervo, e a casa vermelha seja mais tecnológica”.
Na edificação histórica, estão as máquinas geradoras da Manáos Harbour Limited, empresa inglesa contratada para construir o porto. Fazendo as pontes entre passado e presente, o projeto deverá abrigar atrativos para geração de emprego e renda, como um café.
Fotos – Clóvis Miranda / Semcom