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Pacientes são infectados após mutirão de cirurgia dos olhos em Rondônia

PORTO VELHO – O Cremero (Conselho Regional de Medicina de Rondônia) registrou 42 casos de endoftalmite, que é uma infecção oftalmológica pós-cirúrgica, após um mutirão público de cirurgias de catarata e pterígio, ocorrido em fevereiro e organizado pelo governo estadual.

De acordo com o conselho, o surto ocorreu durante três dias de mutirão realizado pela Secretaria Estadual de Saúde de Rondônia, quando foram operados na capital, Porto Velho, em torno de 120 pacientes por dia, em um total de 360 operados. O Ministério Público Estadual apura o caso.

Ainda segundo o conselho, em uma reunião no dia 4 de março, médicos da empresa responsável pelas cirurgias confirmaram as infecções e explicaram a rotina dos procedimentos para os representantes do Cremero.

Dos 42 casos confirmados, 13 foram deram positivo para a bactéria pseudomonas, a mais grave na especialidade, segundo o conselho.

“Um número abusivo de cirurgias realizadas por dia, em que fica difícil manter a segurança dos procedimentos e pacientes. Esses pacientes correm o risco de perder a visão”, afirmou a presidente do Cremero, Ellen Santiago.

Entre os 13 pacientes com a bactéria está Maria Valdeir Santos de Souza, 69, que passou pela cirurgia de catarata. Ela está com perda de visão nos dois olhos. “Se vou do quarto ao banheiro, preciso que minha irmã mais velha me ajude. Meu filho está aqui comigo e eu não vejo. Eu não vejo meu filho!”, disse a idosa. Ela conta que não fez exames antes do procedimento.

Antônio Ferreira Lima Filho, 70, é outro paciente que está com a bactéria e que está cego.

Segundo o filho dele, a perda da visão afetou emocionalmente o idoso. A família pretende entrar com uma ação na Justiça para reembolsar os custos com tratamento para tentar recuperar a visão.

Quem também está com endoftalmite e conta que não recebeu assistência do governo estadual é a cabeleireira Antônia Alves da Silva, 61. Ela operou os dois olhos em apenas três dias e está sem enxergar.

“Não sei como cai nessa. Eu não estava nem em lista de espera, não sei como acharam meu número. Não pediram exame. Vi um descontrole total no hospital, e mesmo assim, eu fiz. Agora estou aqui sem enxergar direito”, disse ela.

Sobre o caso de Rondônia, o CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia) pretende enviar ofícios ao Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde) e ao Conasems (Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde) pedindo esclarecimentos. “No entendimento do CBO, este é um problema grave, com potencial para voltar a ocorrer”, disse o presidente da entidade, Cristiano Caixeta Umbelino.

Ainda segundo Umbelino, não são comuns essas infecções pós-cirúrgicas. “Elas podem ocorrer. Contudo isto não é a regra, e, sim, uma exceção. Obedecer a critérios de segurança exigidos pelas autoridades sanitárias, fazendo com que os procedimentos ocorram em ambientes adequados, na presença de médicos e de equipes capacitadas para sua realização, fazem toda a diferença”.

A Presidência do Cremero já solicitou ao estado detalhes dos contratos e do processo de licitação das empresas envolvidas, além da suspensão imediata no local de mutirões até que seja encerrada a apuração pelo Conselho.

Procurado, o CFM (Conselho Federal de Medicina) disse que, em um primeiro momento, as apurações serão conduzidas pelo órgão estadual, o Cremero.

Outro lado O governo de Rondônia confirmou o surto da infecção oftalmológica pós-cirúrgica nos 42 pacientes. Segundo o secretário de Saúde, Fernando Máximo, que inclusive acompanhou algumas cirurgias, todos os pacientes diagnosticados com infecção foram assistidos e receberam atendimento necessário.

“Infelizmente houve essa infeção desses 40 pacientes, mas o que é importante quando isso acontece é o cuidado intensivo no pós-operatório e isso a gente tem feito. Nós temos dado apoio e atendimento a esses pacientes”, disse em entrevista no dia 14 de março.

Em nota nesta semana, a Secretaria de Estado da Saúde disse que as cirurgias foram suspensas dia 23 de fevereiro, assim que foi confirmado o primeiro caso, e que notificou a empresa para dar explicações e indicar as medidas de tratamento dos pacientes.

Foi aberto processo para apurar os fatos e as devidas responsabilidades. Em seis meses, segundo a gestão, foram realizadas mais de 15 mil cirurgias de catarata e pterígio no estado.

Governo, Ministério Público e Cremero não informaram o nome das empresas responsáveis pelos mutirões.

A Proativa Oftalmologia, uma das três empresas particulares contratadas pelo estado para o mutirão, confirmou que 39 dos infectados foram operados por sua equipe.

Procurada, a empresa afirmou que os atendimentos aconteceram em hospital particular, em salas dedicadas exclusivamente para a ação. Neste período, foram feitas 1.052 cirurgias de catarata.

“Reiteramos que a nossa equipe médica seguiu com rigor todos os protocolos estabelecidos pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia, para oferecer o atendimento adequado e garantir a segurança do paciente e de todos os profissionais envolvidos nas cirurgias de catarata”, diz a nota da Proativa.

Ainda segundo a empresa, foram feitos exames antes de todas as cirurgias e “todos os pacientes estão sendo acompanhados e avaliados individualmente desde a realização da cirurgia”.

Procurado, o Samar, hospital que cedeu o espaço cirúrgico para os procedimentos, informou que não vai se manifestar.

A Promotoria da Saúde do Ministério Público de Rondônia informou que vai investigar todo o fluxo de atendimento, desde a chegada dos pacientes no hospital até o pós-operatório, ouvindo todos os pacientes.

*Com informações de Amazônia Atual/Foto: Breno Vilar

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