Há 30 anos oferecendo um serviço de apoio pedagógico para estudantes cegos e com baixa visão, a Escola Estadual (EE) Joana Rodrigues Vieira é a única unidade de ensino da rede pública do Amazonas a trabalhar, exclusivamente, a educação inclusiva, oferecendo ao aluno deficiente visual, o ensino do braile e do sorobã (instrumento utilizado para fazer cálculos).
A escola recebe alunos a partir de seis meses de idade e, até os 3 anos, as crianças são direcionadas a focar na estimulação precoce, enquanto que os alunos de 4 e 5 anos fazem o pré-escolar, e os estudantes de 6 anos iniciam a alfabetização.
Durante as atividades escolares, os alunos têm todo o conteúdo da grade curricular de uma escola regular, com exceção das crianças de estimulação precoce que precisam ir à escola duas ou três vezes por semana.
A pedagoga Eliete de Menezes conta que a escola realiza um trabalho específico de envolvimento com cada estudante, a fim de auxiliá-lo no seu desenvolvimento individual.
“Nosso maior objetivo é resgatar qualquer resíduo visual que o nosso aluno tenha. A criança, ao chegar na escola, é encaminhada por um profissional, possui laudos e indicações de tratamento, e o nosso objetivo é desenvolver uma série de exercícios que visam o desenvolvimento da criança de acordo com a fase de desenvolvimento em que ela se encontra”, explica a pedagoga.
A mãe do pequeno Levi, de 2 anos, Leane de Oliveira, fala sobre o progresso da criança na escola. “Sem dúvida, eu acho que melhorou bastante no desenvolvimento do meu filho desde quando ele passou a frequentar a unidade escolar, e o melhor de tudo isso é que ele aprende e eu aprendo junto, e passo a realizar as atividades em casa que o estimule para ele ter mais independência ao longo do seu crescimento”, pontuou a mãe.
Exemplo – De aluno a professor. Esta é a trajetória de Paulo Ferreira, que aos 13 anos perdeu a visão e passou a frequentar a EE Joana Vieira. Lá, ele teve o suporte para dar continuidade aos seus estudos, onde anos mais tarde retornou como professor.
“Foi a minha família que me trouxe para realizar a matrícula na escola. Aqui me adaptei à minha nova realidade, aprendi a ler em braile e a usar bengala para me deslocar e começar todo o processo das séries iniciais. Depois de ter esse suporte inicial, fui fazer o ensino médio no Instituto de Educação da Amazônia (IEA), onde concluí o Ensino Médio e, por fim, alcancei o tão sonhado vestibular na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), onde fui o primeiro aluno cego a passar no vestibular no curso de história”, recorda Ferreira.
O educador relembra a sua trajetória de dificuldades e superação até retornar à primeira escola que o acolheu. “Na faculdade havia muitos professores que não acreditavam que eu poderia concluir os estudos, exatamente por nunca terem trabalhado com um aluno cego, mas eu consegui ultrapassar todas as barreiras, inclusive a de conseguir ser aprovado em um concurso público, onde pude ter a oportunidade de retribuir para a minha primeira escola em que estudei”, frisa o professor.
Contribuição para a comunidade – A gestora da EE Joana Rodrigues, Cláudia Guedes, ressalta que a escola é fundamental para o desenvolvimento dos estudantes com deficiência visual, já que lá eles aprendem a ter a autonomia necessária para serem independentes.
“O papel da escola é de fundamental importância, pois foca na política de inclusão. Quando os pais trazem seus filhos, eles percebem que a escola é preparada para receber esses alunos com aprendizagem e a socialização dos seus pares. Eles conhecem as dificuldades enfrentadas por deficientes visuais e como a escola prepara esses alunos para que, ao serem encaminhados para o ensino regular, eles estejam preparados para a nova fase de ensino”, finaliza a gestora.
*SECOM/FOTOS: Eduardo Cavalcante / Seduc