A brisa da tarde de domingo (26) carregava mais que a umidade característica da Ponta Negra. Havia no ar algo invisível, mas palpável: a força de mulheres que aprenderam a ressignificar a dor. Na 9ª edição do Click Solidário, o gramado ao lado do Complexo Zezinho Corrêa se transformou em palco de um encontro improvável entre saudade e esperança, onde lenços coloridos contavam histórias que os livros de medicina insistem em reduzir a números.
O “Piquenique da Saudade” não foi apenas um evento. Foi um manifesto silencioso contra o esquecimento – tanto daquelas que partiram quanto daquelas que seguem lutando para permanecer.
Quando a vulnerabilidade se torna vitória
Dona Fátima, Cíntia e Mara subiram ao improvisado palco com a hesitação de quem carrega cicatrizes que vão além da pele. Mas suas vozes não tremeram. Contaram, cada uma ao seu modo, como o Click Solidário não apenas fotografou seus rostos, mas devolveu-lhes o reflexo que o câncer havia roubado dos espelhos.
“Eu não sabia mais quem era”, confessou uma delas, ajeitando o lenço com a delicadeza de quem ainda está aprendendo a se reconhecer. “Até o dia em que alguém olhou para mim e viu além da doença.”
A enfermeira Cinthia Damasceno, presente desde 2019, resume em poucas palavras a essência de cinco anos de participação: “Cada edição é uma nova surpresa.” Ao seu lado, o marido acena confirmando – alguns apoios não precisam de holofotes para serem determinantes.
Continua depois da Publicidade
As cadeiras vazias que ainda ocupam lugar
Na roda de homenagens, sete nomes ecoaram como oração: Alda Aragão, Luzanira Nunes, Layze Roque, Geraldine, Ana Kélvia, Raimunda Teixeira e Rose Teixeira. Mulheres que passaram pelo Click Solidário e hoje habitam apenas fotografias e memórias.
Não houve discursos lacrimosos ou melodramas desnecessários. Apenas o reconhecimento de que algumas presenças permanecem justamente por terem partido – deixando rastros de coragem que orientam quem ainda caminha.
Continua depois da Publicidade
O silêncio respeitoso que tomou conta do público naquele momento disse mais que qualquer palavra: a saudade, quando compartilhada, pesa menos.
A engrenagem invisível da solidariedade
Edivan Farias, criador do projeto, é daqueles que preferem os bastidores ao palco. Mas neste domingo, fez questão de nomear: Elcimar Freitas, Hércules Andrade, Ari Mota, Miquele Baraúna, os fotógrafos voluntários, as maquiadoras Lene, Jaqueline e Isabelle, Day Almeida e sua massoterapia acolhedora, Francisco Araújo, Idete Sateré.

E seguiu: Pablo, Junhão, Wilson Lalor, Sirley Marques – que chega todo ano com joias e mimos –, os estreantes alunos do CETAM, J. Ricardo. Uma lista que parecia não ter fim, assim como a gratidão que a motivava.
“A cada edição, o Click Solidário se renova”, afirmou Edivan, cercado pela mãe, esposa e filhos – a família que entendeu que solidariedade não é hobby de fim de semana, mas projeto de vida.
O que vem pela frente: uma década de resistência
Já há promessa para 2026: a 10ª edição será marcada por um Baile Especial Comemorativo. Uma década de um projeto que começou com uma câmera e a intuição de que, às vezes, a cura não vem apenas da quimioterapia, mas também de um olhar que enxerga beleza onde a doença tentou plantar medo.
Enquanto o sol descia atrás dos prédios da orla, as participantes recolhiam suas toalhas de piquenique. Mas levavam consigo algo que nenhuma cesta comportaria: a certeza de que não estão sozinhas, de que suas histórias importam, de que a saudade – quando dividida sob a sombra das árvores da Ponta Negra – pode se transformar em combustível para seguir.
O Click Solidário prova, edição após edição, que solidariedade não é caridade. É reconhecimento mútuo de humanidade. É olhar para o outro e enxergar a si mesmo refletido – fragilidades, forças e tudo mais que nos torna irremediavelmente humanos.
Click Solidário – Sonhos que florescem
Instagram: @clicksolidarioamazonas

