A Polícia Civil informou, no início da noite desta quinta-feira (5), que a mulher sem registro oficial internada há 21 anos em estado vegetativo no Espírito Santo não é Cecília José de Faria, que sumiu em 1976. O sumiço aconteceu quando a menina tinha 1 ano e 9 meses e viajava com a família para Guarapari.
Mais cedo, a irmã de Cecília, a servidora pública Débora São José de Faria, de 50 anos, disse ao G1que, para ela, esta era apenas mais uma suspeita. Desde o desaparecimento, cerca de 20 pessoas que poderiam ser, mas não eram Cecília, já apareceram.
Débora soube da história da mulher em coma no Espírito Santo em dezembro do ano passado, após receber um telefonema de um homem que se identificou como policial do Paraná e levantou a possibilidade de a paciente, que ficou conhecida como Clarinha, ser Cecília.
“Ele me deixou com a pulga atrás da orelha. Eu olhei na internet, verifiquei que realmente existia essa pessoa (internada no Espírito Santo), pedi para a delegacia daqui entrar em contato com o pessoal do Espírito Santo e pedir o material genético”, contou Débora.
Segundo ela, o material genético de Clarinha foi enviado para a delegacia da Polícia Civil de Minas Gerais em abril, para ser comparado com o DNA dos pais dela, cadastrado em um banco de dados.
A Polícia Civil de Minas Gerais disse que o material foi processado pelo Laboratório de DNA Criminal/ES e inserida no Banco de Dados de Perfis Genéticos em novembro de 2015. Segundo a Polícia Civil, os dois estados pertencem a uma rede de bancos de perfis genéticos, o que permite confrontos a cada nova inserção.
“Assim, caso a paciente fosse filha do casal mineiro, a maternidade/paternidade dessa teria sido confirmada em novembro/2015”, disse a Polícia Civil em nota.
Ainda de acordo com a polícia, nesta quinta-feira (5), novamente os perfis do casal de Minas Gerais e da mulher internada foram comparados e o resultado deu negativo.
Desaparecimento na praia
Cecília desapareceu no dia 2 de fevereiro de 1976, durante uma viagem da família, que é de Belo Horizonte, a Guarapari. A mãe dela tinha feito uma cirurgia, e o médico recomendou o passeio para que ela pudesse descansar. Na época, Débora tinha 5 anos.
“Eu lembro que nós chegamos no dia 1º de fevereiro, à tardinha. No dia seguinte, levantamos cedo, fomos para a praia, voltamos e almoçamos. Mais tarde, a babá estava dando banho no meu irmão mais velho e, quando chamou a Cecília, por volta de 17h30, é que a gente viu que a Cecília não estava mais na casa”, conta a servidora pública.
De acordo com Débora, a família estava hospedada em um chalé, dentro de um condomínio fechado, em um acampamento de adventistas.
Desde então, ninguém teve mais notícias de Cecília. A mãe dela morreu em maio deste ano sem saber o paradeiro da filha. O pai está com Alzheimer. As cerca de 20 suspeitas que surgiram nos últimos anos não se confirmaram.
A Polícia Civil de Minas Gerais disse que, na época dos fatos, tomou “as providências cabíveis”, como divulgação das imagens da criança e familiares, inclusive fotografia envelhecida da desaparecida, contato com as redes de assistência social e da saúde em busca de informações.
Em coma há 21 anos
Clarinha está internada em estado vegetativo no Hospital da Polícia Militar (HPM), em Vitória (ES), após um atropelamento em junho de 2000. Ela foi socorrida sem documentos e qualquer pista que ajudasse a identificá-la. Nenhum parente ou amigo a visitou em todos esses anos.
Agora, o Ministério Público do Espírito Santo (MPES) investiga se a identidade dela pode estar ligada ao desaparecimento da mineira. Uma equipe de papiloscopistas da Força Nacional de Segurança Pública usou um processo de comparação facial e fez buscas em bancos de dados de pessoas desaparecidas com características físicas semelhantes às da mulher.
“A partir dessas buscas, chegou-se ao caso de uma criança de 1 ano e 9 meses desaparecida em Guarapari, em 1976. Na época dos fatos, a família dela, que é de Minas Gerais, passava férias no Espírito Santo. Para a confirmação das semelhanças físicas entre a menina desaparecida e ‘Clarinha’, foi solicitada a realização de exame de reconhecimento facial por uma empresa especializada neste trabalho localizada no Paraná’, disse o MP em nota.
Ainda de acordo com o Ministério Público, o exame feito pela empresa concluiu haver “compatibilidade” entre as imagens de Clarinha e de Cecília.
“O MPES enviou o material genético para a Polícia Civil de Minas Gerais, que mantém arquivado o perfil genético dos pais da criança desaparecida em Guarapari. O Ministério Público capixaba solicitou a comparação entre os perfis genéticos e, neste momento, aguarda o resultado dos procedimentos adotados pela Polícia Civil mineira”, afirmou o MP.
*Com informações de G1 Minas Gerais