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Amazonas integra primeiro estudo a relatar impactos da malária vivax na saúde cognitiva de idosos

A infecção por malária vivax pode comprometer as funções cognitivas, executivas e funcionais de idosos por até oito meses. É o que aponta artigo publicado na revista “Nature” por pesquisadores do Instituto de Pesquisa Clínica Carlos Borborema (IPCCB), vinculado à Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD), unidade da Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (SES-AM). A pesquisa apresenta as primeiras evidências mundiais sobre os comprometimentos cognitivos causados pela malária a esta população.

Intitulado “Impacto da malária por Plasmodium vivax nas funções executivas e cognitivas de idosos na Amazônia brasileira” (Impact of Plasmodium vivax malaria on executive and cognitive functions in elderlies in the Brazilian Amazon, em inglês), o artigo apresenta os resultados da pesquisa de doutorado do neuropsicólogo Rockson Pessoa, aluno do Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical (PPGMT) da Universidade do Estado do Amazonas (UEA).

“Esse é o primeiro estudo no mundo a relatar os impactos da malária na saúde cognitiva de idosos. Encontramos na literatura científica informações sobre esses impactos apenas em crianças e demais escolares. Esse também é um dos primeiros estudos a verificar de maneira mais sofisticada o bloco de funções executivas associadas à malária nessa população”, destaca Pessoa.

Entre fevereiro de 2018 e novembro de 2020, a equipe de pesquisa acompanhou uma coorte de 140 participantes formada por dois grupos: 70 idosos que receberam diagnóstico de malária por P. vivax na FMT-HVD; e o chamado grupo controle, composto por 70 idosos sem histórico de infecção por malária vivax nos últimos 12 meses, de acordo com dados do Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica da Malária (Sivep-Malária/Ministério da Saúde).

Todos os participantes tinham idade acima de 60 anos e residência em Manaus. O grupo diagnosticado com malária recebeu tratamento na FMT-HVD, de acordo com o Guia de Tratamento de Malária no Brasil do Ministério da Saúde.

Os testes avaliaram a memória de trabalho, planejamento, controle inibitório (capacidade de inibir uma ação), flexibilidade cognitiva e formação de conceitos dos participantes, por meio de instrumentos psicológicos que se assemelham a baralhos ou jogos de cartas ou exercício, em que o indivíduo precisava marcar as horas em um relógio, por exemplo.

Fatores como tempo de exposição à malária ao longo dos anos, recorrências – número de vezes que o indivíduo apresentou a doença anteriormente –, além de parasitemia elevada foram observados como importantes preditores de comprometimento executivo.

“Observamos que há uma correlação entre esses fatores e o quadro apresentado pelos participantes. Idosos que tiveram muitas infecções por malária, por exemplo, tiveram pior desempenho nos testes de avaliação cognitiva. Em comparação, o grupo controle apresentou melhores resultados”.

Envelhecimento e malária

Considerando o envelhecimento populacional – segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2060, cerca de 25% da população brasileira terá 60 anos – e as altas taxas de transmissão da malária vivax em áreas subtropicais e tropicais, onde a doença é endêmica, a malária pode gerar impacto negativo substancial na cognição e na execução de funções que refletem na qualidade de vida da população idosa.

“Esse estudo nos sinaliza a necessidade de mais estudos e equipes multidisciplinares nesta pauta. O mundo está envelhecendo, e precisamos olhar para a população idosa e pensar em práticas de reabilitação, pois esses eventos se somam aos processos naturais de envelhecimento e afetam a qualidade de vida, as atividades laborais e de aprendizado e outras questões funcionais”, ressalta o neuropsicólogo.

De acordo com a publicação, os resultados obtidos neste estudo são importantes para informar os tomadores de decisões públicas e os profissionais envolvidos na atenção à saúde e na melhoria da qualidade de vida dos idosos, considerando que essa população é mais vulnerável a danos cognitivos.

Para realizar a pesquisa, o neuropsicólogo contou com orientação da pesquisadora doutora Djane Clarys Baía-da-Silva; co-orientação dos pesquisadores doutores Marcus Lacerda, Wuelton Monteiro e José Humberto Silva Filho; e bolsa de pesquisa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

Também são autores no artigo Gabriela F. Oliveira-Pessoa, Brenda K. A. Souza, Vanderson S. Sampaio, André Luiz C. B. Pinto, Larissa L. Barboza, Gabriel S. Mouta, Emanuelle Lira Silva e Gisely C. Melo.

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