A Prefeitura de Manaus, por meio da Fundação Municipal de Cultura, Turismo e Eventos (Manauscult) e do Conselho Municipal de Cultura (Concultura), abre ao público a exposição “Duo de Artes: Artistas da Terra”, com os artistas plásticos Rosely Barros e João César Costa, no período de 21 a 29/6, no salão térreo do Palácio Rio Branco, localizado na rua 7 de Setembro, s/n, na praça Dom Pedro II, no centro histórico. Rosely Barros selecionou uma série de 11 pinturas – acrílico sobre tela, intitulada “A Menina e o tempo”.
A exposição tem como objetivo primordial incentivar a produção artística da terra, criando oportunidades, condições e espaços para que os artistas locais realizem exposições de suas obras e obtenham maior visibilidade, interação com o público e consequente valorização de suas produções.
“Nossa gestão vem trabalhando para fortalecer a difusão cultural em toda a cidade e, principalmente, na descoberta de novos talentos e potencialização de carreiras. O Concultura, órgão consultivo da Manauscult, vem atuando nesse sentido, e o que vemos aqui nessa exposição são obras de grande valor, com traços muito peculiares, fundamental para a produção artística não apenas na capital, mas em todo o interior do Estado”, comentou o diretor-presidente da Manauscult, Osvaldo Cardoso.
O presidente do Concultura, Tenório Telles, destaca que a “Duo de Artes: Artistas da Terra” é um gesto simbólico de interlocução entre os artistas que trabalham no interior e os que produzem na cidade.
“Esperamos que essa iniciativa contribua para estimular a produção artística e a promoção dos criadores que vivem nos municípios, e que possam ter seus trabalhos reconhecidos em Manaus. Rosely Barros e João César, oriundos de Manacapuru, são uma evidência do poder criativo dos nossos artistas interioranos. Esperamos que esta iniciativa do Conselho de Cultura e Manauscult sirva de estímulo para esses artistas talentosos e possam seguir em suas carreiras”, pontuou.
Telles lembra que o espaço do salão térreo do Palácio Rio Branco na gestão David Almeida se transformou numa galeria que tem abrigado grandes e expressivas exposições artísticas como as mostras de arte indígena, vida e obra de Luiz Bacellar e de fotografias.
Tintas e lápis
A artista Rosely Barros desenvolve suas telas em tecido e com tintas acrílicas e óleo. Já João César desenvolveu técnicas com grafite e lápis de cor.
Odaléia Rosely Nascimento Barros é natural de Manacapuru/AM. Ainda na infância se encantou pelo desenho e pela pintura, artes nas quais se considera autodidata. Desenvolveu suas técnicas observando as pinturas dos grandes mestres da pintura, o holandês Rembrandt, e do espanhol Diego Velásquez, entre outros artistas do barroco, renascimento e romantismo nos livros que encontrava na biblioteca da Casa da Cultura do município. Posteriormente, cultivaria uma grande paixão por artistas como Pedro Américo, Anita Malfatti, Tarsila do Amaral e Van Gogh, entre outros.
No início de seus experimentos em pintura usava tinta à base d’água sobre papel, até ser apresentada às telas em tecido e às tintas acrílicas e óleo. Desenvolveu técnicas com lápis de cor, aquarela, giz pastel, acrílico/tela e óleo/tela. Sua primeira exposição aconteceu em 1996, com o tema “Casarios”.
Uma outra paixão de sua vida é o magistério, ofício ao qual se dedicou profissionalmente até a aposentadoria, em 2019. A partir desse ano, passou a dispor de um tempo maior para retomar a antiga paixão da pintura, que mantivera latente no decurso dos anos. Desde então, vem produzindo retratos, por diletantismo ou por encomenda, já que a forma humana é o seu principal tema.
Para a exposição “Duo de Artes: artistas da terra”, Rosely Barros selecionou uma série de 11 pinturas – acrílico sobre tela, intitulada “A Menina e o tempo”. Trata-se de quadros que recriam figuras femininas em diferentes contextos. Em um diálogo multiartes, as figuras retratadas são apresentadas em poemas escritos por amigos da artista.
O artista visual João César Costa nasceu e cresceu na zona rural de Manacapuru. Quando criança, o desenho era uma de suas brincadeiras preferidas. Ao ingressar na educação escolar, desenvolveu ainda mais o gosto por desenhar e colorir os exercícios que eram passados, desde os primeiros anos de alfabetização.
No início, a paixão pelo desenho e pela pintura esbarrava em alguns obstáculos, ligados ao ultraconservadorismo dos pais e às demandas oriundas das tarefas domésticas a cumprir. Era constantemente repreendido por ser flagrado, em meio às “atividades importantes” do cotidiano, fazendo desenhos na contracapa dos cadernos, o que a família encarava como perda de tempo com algo que não era promissor, que não poderia contribuir para uma recompensa no futuro. Apesar desse contexto, João César sempre nutriu uma esperança de provar para si mesmo que a sua arte valeria a pena.
O tempo passou, e João César teve que se mudar para a região urbana de seu município, para continuar os estudos e trabalhar. Nesse período, por absoluta falta de tempo, abandonou a arte de desenhar e pintar. No ano de 2018, conheceu, por meio da internet, o desenho realista, estilo que o deixou muito impressionado. Buscou informações e fez pesquisas de vídeos na internet, no intuito de tentar entender como aquela arte era produzida. Tratou de adquirir lápis e papéis para iniciar as tentativas de arte realista, dedicou-se muito sozinho, fazendo diversas tentativas frustradas de reproduzir algo parecido com um retrato. Com o tempo e as tentativas, foi aprimorando as suas técnicas.
Em 2021, por conta do projeto de Lei Aldir Blanc, João César obteve aprovação de seu projeto “Descobrindo o Realismo em forma Cultural”, por meio do qual realizou uma exposição de suas obras, juntamente com outros artistas de pintura, dança e música, obtendo uma boa avaliação por parte dos críticos e espectadores presentes. Ainda em 2021, inscreveu-se também no Edital Amazonas Criativo, obtendo a primeira colocação na categoria Artes Plásticas, com o “Projeto Semente Artística” no qual ofertava oficinas de desenho realista, artes gráficas, fotografia, artes em EVA e pintura em telas.
João César tem algumas outras categorias de arte como hobby, como por exemplo artes plásticas com reciclagem de papelão, em que produz réplicas de armas, e também artes em madeira, como marchetaria e marcenaria, além de trabalhos com aerografia, entre outros. João é mecânico de motos, trabalho pelo qual obtém o sustento de sua família, restando o horário noturno para a produção de 90% de suas obras.
Fotos – Clóvis Miranda / Semcom